O gosto pela leitura deve ser estimulado desde a barriga
Que a leitura faz uma diferença enorme na construção do sujeito, não há dúvida nenhuma. Quanto mais cedo houver um estímulo ao mundo dos livros, melhor para a aprendizagem e desenvolvimento humano. Agora, iniciar um processo de construção do sujeito leitor a partir da gravidez é algo novo. Pois bem, uma experiência neste sentido vem sendo realizada numa escola pública da zona norte, já apresentado alguns resultados positivos.
Coordenado pela professora Jaciana Sousa, a pesquisa "Leitura a partir do ventre" defende que a criança precisa sim, conviver com o livro, criar um vínculo com este objeto, mesmo antes de ler convencionalmente. "Afinal, como afirma Fernando José de Almeida: A paixão pela leitura não vem no código genético das pessoas. Ela deve ser cultivada, incentivada e ensinada. E somos nós, pais, os primeiros mediadores, responsáveis direto pela formação leitora dos nossos filhos".
A curiosidade pelo tema surgiu em dezembro de 2008, quando participava de um Seminário Internacional sobre Alfabetização, realizado em Natal, onde foi apresentado um trabalho de Cuba que enfatizava bastante a questão do estímulo à criança logo depois do nascimento. "Então, pensei ser possível estimular à criança, enquanto feto", no entanto, ela não deu continuidade a pesquisa, aprofundando-se em alguma teoria que fundamentasse esse pensamento.
Em 2010, ao participar do Seminário Prazer em Ler, realizado pelo Instituto de Desenvolvimento da Educação - IDE, ela sentiu-se mais uma vez instigada. "Quando a escritora Ana Margarida Ramos falou da experiência de Portugal com bebetecas (bibliotecas para bebês). Inclusive conversamos, pessoalmente, sobre a idéia e trocamos emails, com indicação de algumas referências bibliográficas. Lendo sobre a sensorialidade do feto, lembra Busnel(1999)quando ele afirma que "há uma aprendizagem no útero e que os bebês tem uma tendência a gostar daquilo que já provaram, ouviram ou cheiraram no útero". "Isso reforça e justifica a possibilidade desse estímulo precoce à leitura", enfatiza a professora.
A vivência dessa experiência no interior da escola, no entanto, não é fácil, dada a dinâmica do dia-a-dia de uma instituição pública de ensino. Segundo a professora, esse tipo de experiência é considerada uma ação de educação preventiva. "Mas a escola vive situações que precisam ser solucionadas com urgência, que demandam recursos humanos e materiais. E nesse contexto, torna-se difícil garantir ações de ordem preventiva", ressalta, lembrando que, no momento, a ação ainda é tímida, tendo em vista, não tratar-se de uma formação com as gestantes, como gostaríamos. Contudo, procuramos nas oportunidades de reuniões de pais ou específicas para esse fim, chamar a atenção de todos para a possibilidade da criança ser estimulada a leitura a partir da vida intra-uterina e, sua continuidade é óbvio, por toda a vida.
Segundo Jaciana, de um modo geral, já são observados resultados com o projeto de promoção da leitura literária "Escola e família: Por uma política de formação de leitores", não apenas com a ação que envolve as mães gestantes, até porque esta iniciou no final de 2010 e, ainda não se efetivou como uma formação continuada, como desejamos. "Apenas realizamos encontros, onde apresentamos sugestões de como estimular o feto; seja através de conversa, música, contação de histórias, etc. Na orientação às mães recomendamos que a criança escute histórias desde o ventre materno. Pois, as gestantes que alisam a barriga e lembram de narrativas, palavras, canções, que conversam com os seus bebês, mesmo em silêncio, transmitem tranqüilidade ao novo ser".
Para a professora, quando nascerem, esses bebês terão uma relação especial com a arte de diferentes maneiras, e consequentemente, apresentarão desenvolvimento diferenciado das que não tem acesso ao mesmo estímulo."Temos depoimentos, principalmente, das professoras-mães que vivenciam a experiência, desde o período de gestação, que seus bebês tem apresentado sucesso em seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à linguagem, atenção, concentração,entre outros".
As perspectivas para o futuro é de elaborar de fato, uma espécie de formação continuada com essas mães, se possível com apoio do Posto de Saúde do Bairro, de modo que a idéia possa atingir um universo cada vez maior de gestantes. "Penso que a confecção de uma cartilha de orientação às gestantes e às famílias sobre o estímulo da leitura na mais tenra idade pode ser uma estratégia", disse.
"Os livros fazem parte da vida do meu filho"
Jaciana Sousa, Coord.da Escola Mun. Prof. Laércio Fernandes Monteiro
"Sinto-me muito a vontade para falar sobre a importância do estímulo à leitura desde cedo. Pois vivenciei essa experiência com o meu filho; hoje, com 14 anos de idade. Durante a gravidez, não me recordo de ter feito qualquer estímulo direto, como contação de história, música, etc., mesmo que inconsciente (naquela época, não tinha ainda essa compreensão). No entanto, acreditava na leitura e os livros (clássicos infantis) já faziam parte do enxoval dele. Talvez, também, pela inquietação de mãe, e, sobretudo, mãe-professora, de ver o meu filho lendo e escrevendo num futuro bem próximo.
Dessa forma, os livros sempre fizeram parte da sua vida. E o livro-brinquedo misturava-se, e até era confundido com os seus outros brinquedos. De vez em quando, nas suas fantasias de criança, eram literalmente empurrados, ora no chão, ora no ar; transformando-se em carrinhos, aviões etc. Tanto eu, quanto a babá, contávamos inúmeras e repetidas histórias antes dele dormir. E hoje posso dizer que esse estímulo tem feito muita diferença na sua vida, ou melhor, na nossa. É muito prazeroso para a família ver o sucesso do(s) filho(s) nos estudos. Aos oito anos de idade, demonstrou interesse pela poesia, inclusive produziu algumas.
Durante toda a vida escolar, encontra-se entre os primeiros da turma. No próximo dia 04/12, estará prestando o Exame de Seleção do IFRN (Mecatrônica-Parnamirim). Tem participado de um cursinho preparatório (IAP), inclusive classificado entre os primeiros lugares no curso (Mecânica), nos dois primeiros simulados que participou. Enfim, não tenho dúvida que esse sucesso vem acompanhado do gosto pela literatura.
Tribuna do Norte
Postado por Edjane Macedo
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